quarta-feira, 25 de maio de 2016

A IMAGEM FOTOGRÁFICA E SEUS SIMBOLISMOS


Ao vermos uma imagem fotográfica podemos: simplesmente ver ou observar alguma simbologia. Para Jung, as imagens que fotografamos, desenhamos ou pintamos são capazes de representar situações inconscientes que vivemos num determinado tempo ou ocasião. Por isso, qualquer imagem produzida pelas pessoas, são ricas em símbolos. Observar ou não essa simbologia depende única e exclusivamente de um olhar atento.

A história das imagens começou nos primórdios da humanidade e do psiquismo humano. Já o imaginário é do domínio da imaginação, que nada mais é do uma capacidade criativa e produtora de imagens interiores (semelhante aquelas que formamos quando lemos um livro e vemos a cena mentalmente). Elas são responsáveis pela formação da nossa identidade ou individualidade, seja criando personagens ou sentimentos. Por isso, não as controlamos, nem tampouco decidimos que imagens nosso imaginário vai criar. Portanto, cada imagem está impregnada de símbolos e de significados.


Para Jung, mesmo que uma imagem nos pareça corriqueira e banal, pode apresentar algo vago, desconhecido, oculto e que, geralmente, suscita uma pergunta sobre algo que vai além do que está mostrado. E diante desse questionamento dentro de um processo terapêutico, a imagem nos ajuda a estabelecer uma relação entre os fatos
O símbolo não é observado pelo seu autor, embora esteja ali, através de uma mensagem viva e intuitiva. Por isso, o observador (terapeuta) o pressente, mas não o reconhece de imediato. O símbolo é sempre uma sugestão de um questionamento e exige a participação do criador da imagem e do observador.

Quando o autor da imagem (ou diante de uma) não quer ou não pode falar sobre essa imagem, outras podem ser utilizadas para que ele revele aos poucos o motivo do símbolo ter aparecido. Portanto, o terapeuta deve ser paciente e ir fazendo as associações á medida que novos símbolos vão aparecendo. É, portanto, uma espécie de quebra-cabeça simbólico formado por imagens simbólicas, vindas do inconsciente do seu autor ou do que vê na imagem.

Conhecer os símbolos de uma pessoa é conhecê-la profunda e intimamente. Por isso, a interpretação que a pessoa faz desses símbolos permite que o terapeuta decodifique a imagem e a conheça melhor. Por isso, as observações e o que se percebe dos símbolos de uma pessoa são particulares e só dizem respeito a ela. Mesmo quando um mesmo símbolo é utilizado por outras pessoas, os motivos e as interpretações diferem e, por isso mesmo, não pode ser generalizado.

Mas algumas são bem previsíveis como por exemplo, as de caminhos. Segundo os dicionários da Língua Portuguesa, caminho significa “faixa de terreno destinada ao trânsito de um lugar para outro ponto.


No novo dicionário Aurélio da língua portuguesa (2004), temos a definição de caminho como estrada, vereda, trilho”, “direção, rumo, destino, “espaço percorrido ou por percorrer, andando”, dentre outros. Ir por um caminho é ter um sentido de orientação na vida, ou um comportamento de sair de um lugar e ir para outro, ou ainda de iniciar um movimento de sair daquele lugar. Em termos simbólico, representa a vontade ou o desejo de mudar uma situação, de realizar uma mudança com um objetivo certo ou ainda não definido.


No entanto, se for a imagem de uma bifurcação nesse caminho, representa que a pessoa quer a mudança, mas ainda não tem certeza de sua escolha entre duas opções. É o que chamamos de “polaridades”. Envolve também a renúncia, pois sempre que se escolhe uma coisa entre duas, aceitamos uma e renunciamos a outra. E a escolha é sempre da pessoa e não do terapeuta. A tarefa do segundo é a de fazer o primeiro refletir sobre sua situação, o que sofreria menos na questão da renúncia e assim por diante.


Se, por exemplo, for um caminho cheio de curvas, algumas até escondidas por uma vegetação ou montanhas. A sensação que sentimos ao ver a imagem é a de que existe uma interrupção nesse caminho. E quando ela aparece na terapia, algumas explicações ou interpretações podem ser levadas em conta: a) pode ser uma vivência da pessoa que começa uma coisa muito bem e pouco depois é interrompida para recomeçar mais adiante; b) pela demora do seu desenvolvimento no seu processo terapêutico; c) por sensações de nunca alcançar os objetivos que almeja.

O caminho sinuoso é uma imagem riquíssima em reflexões, principalmente se a associarmos a um “labirinto”. Reflexões sobre a assertividade, de valor ou invalidade dos resultados, de ansiedade, impaciência ou pressa de atingir um resultado. A ajuda é realizada com novas reflexões sobre por onde começar, qual caminho a ser percorrido para chegar, sobre o tempo que isto gasta e se chegar, se ficará satisfeita com o resultado.


 Os caminhos com obstáculos são oportunos para novas reflexões. Com certeza, qualquer obstáculo impede ou dificulta o caminho e o torna mais longo ou demorado, dependendo da atitude que tomamos diante dele: remover o obstáculo, procurar um atalho ou recuar.

O trabalho do terapeuta é o de fazer a pessoa descobrir dentro de si própria: a) as dificuldades que a estão impedindo o seu caminhar e dar nomes a eles; b) se existem alternativas internas ou externas que facilitem seu caminhar; c) e o que está disposta a fazer e por quê.


Muitas imagens possuem caminhos suspensos, como as pontes rústicas, por exemplo. Evidentemente, nos faz lembrar de problemas ou caminhos pendentes que ainda não se resolveram. Quando usadas para saber que emoções ou sentimentos essa imagem provoca, geralmente vem á tona a questão da insegurança. E as reflexões sobre o tema são inevitáveis. Algumas vezes, pode significar esta imagem pode representar a passagem de um estágio para outro: do eu era para o eu sou.
Confrontando-se a imagem com uma suposta travessia, pode-se explorar várias facetas do desenvolvimento da vida de uma pessoa. Como ela se sente, o que vê, o que pensa são dicas importantes para o conhecimento íntimo (projeções) dessa pessoa.

Se a imagem é a de um caminho percorrido a dois, o tema já muda. Reflete-se sobre a cumplicidade do parceiro (a), da segurança e proteção dada pelo companheiro (a), das experiências já vividas, do prazer do caminhar e sobre os momentos em que isso acontece.


Se a imagem mostrar a interrupção de um caminho por causa de um abismo, por exemplo, não precisa ser adivinho para saber que indica uma ação parou. O terapeuta pode querer saber que emoções a visão dessa imagem provoca, ou pode sugerir que a pessoa tente continuar nesse caminho criando alternativas para isso, como por exemplo: ser levado por um pássaro gigante para o outro lado, um raio luminoso a transporta, uma nave espacial aparece etc. Nessas fantasias também há a simbolização.

Mas, pode ainda sugerir que a pessoa descreva o que ela vê lá embaixo ou o que espera encontrar nesse lugar. Neste caso, a imagem permite que novos simbolismos estejam presentes, mas não simbolismos de interferências, mas de transformação, de criação.  

O arte-terapeuta ainda pode mostrar todas elas, ao mesmo tempo, e questionar como a pessoa se sente ou se situa naquele momento. Para isto, ele terá que escolher uma imagem. E assim, encaminhar as reflexões necessárias. O mesmo pode ocorrer com janelas e portas. As fotos ou imagens com sótãos também são muito interessantes.


sábado, 14 de maio de 2016

O RECURSO FOTOGRÁFICO NA TERAPIA


Nosso cotidiano está rodeado de fotos: nas propagandas, jornais e revistas, nos livros de todos os tipos, nos museus etc.


A fotografia é o registro de um momento capturado no tempo e no espaço onde acontece um evento qualquer. Fotografamos a família, o desenvolvimento dos filhos, de um lance bonito num jogo de futebol, um baile, de uma refeição em família, de um lugar que visitamos em uma viagem, de um lugar que nos agrade ou de nós mesmos. Todas estas fotografias revelam uma imagem estática de um momento que jamais se repetirá.

A fotografia age como uma espécie de jogo, pois não revela apenas a imagem. Ela traz consigo uma gama de lembranças, sentimentos, emoções e sensações visuais, auditivas, olfativas, gustativas e táteis boas ou ruins daquele momento. Por isso, ninguém sabe ao certo o que ela expressa, mas como toda imagem, é muito reveladora.

Sempre que observamos uma fotografia, revisitamos o passado e o confrontamos com a realidade do presente. Não a olhamos simplesmente por olhar. Algumas fotografias prendem mais o nosso olhar que outras. Isto porque elas trazem algumas informações que são importantes para nós. Se essas informações forem boas, podemos falar sobre ela, contar os fatos com riqueza de detalhes, dizer como nos sentimos, lembrar, por exemplo, do vento que esvoaçava os cabelos, do gosto de algo que comemos, do aroma do lugar, etc.  No entanto, também pode nos calar revivendo o medo, a dor e o sofrimento vivido ou da percepção que tivemos naquele momento. Então, podemos dar a essa imagem um novo significado ou um novo contexto.A nova significação ou contextualização da imagem ou fotografia acontece por meio de “projeções” ou “associações”.

PROJEÇÕES

Segundo Jung, “as projeções são processos automáticos e inconscientes em que o sujeito se transfere para um objeto (no caso a fotografia) como se aquilo que o incomoda pertencesse ao objeto (foto) e ela dá um significado”.

No início do processo terapêutico, a pessoa acredita que é a fotografia que lhe faz relembrar coisas ruins que aconteceram com ele, no entanto, durante as sessões de terapia, passa a compreender que o problema está com ele e não na foto apresentada. A tomada de consciência faz com que as projeções acabem. Só então, tem início o processo de autoconhecimento.

ASSOCIAÇÕES



Quando um evento desagradável acontece marca o sujeito. Nesse momento, ele pode ouvir algumas palavras ou ruídos que ficam em sua mente. A simples menção de uma delas em outras circunstâncias ou situações faz com que esse sujeito reaja de forma diferente (mostrar medo, tremer, ficar nervoso ou agitado, calar-se ou falar por monossílabos, etc). Assim, segundo Jung, as “associações” são compostas por uma lista de palavras de ligações espontâneas de ideias, percepções, imagens, fantasias com ou sem qualquer ligação ou significado com o fato ocorrido. Então o sujeito elabora uma lista de palavras que o lembram do fato desagradável pelo qual passou. Por isso, Jung chamou essas palavras de “indutoras”, porque as palavras induzem o sujeito a lembrar do que lhe é desagradável. Jung ainda explica que essas palavras mexem com os conteúdos emocionais do sujeito de forma inconsciente. Jung chamou as reações do sujeito de “complexos afetivos”.

Quando a fotografia é usada como recurso terapêutico as imagens são indutoras. E por isso, são também simbólicas. Palavras ou imagem indutoras só podem ser percebidas pelo terapeuta através do seu olhar atento e observador, pois estão fora do alcance de compreensão dos sujeitos, portanto, impossível que a pessoa as reconheça por si só.

domingo, 1 de maio de 2016

A FOTOGRAFIA COMO RECURSO DA ARTE-TERAPIA


A fotografia é uma atividade livre, portanto, é um excelente recurso arte-terapêutico. A fotografia, segundo Selma Ciornai (2004), é uma foram de linguagem simbólica, repleta de manifestações expressivas de conteúdos e motivações inconscientes em forma de imagens. Logo, se presta ao tratamento arte-terapêutico.

De acordo com Associação de Arteterapia do estado de São Paulo (AATESP), a Arte-Terapia visa o conhecimento do sujeito e os fenômenos do mundo que o cerca através de um contexto de exploração daquilo que produz artisticamente utilizando recursos criativos e expressivos e assim resgatar e integrar esse sujeito no contexto dos acontecimentos por meio do ato criativo e do seu produto no contexto arte-terapêutico. Ou seja, contribui para o desenvolvimento harmonioso do sujeito e de suas capacidades por meio do processo de autoconhecimento.


Este processo serve para todos: crianças, jovens, adultos e idosos sadios ou com algum problema, individualmente ou em grupo, num consultório ou em uma instituição. Existem diferentes abordagens que levam ao mesmo fim. A Arte-Terapia com base na teoria de Jung vale-se de materiais expressivos destinados a uma criação simbólica presente no imaginário de cada pessoa. É esse imaginário que refletem as estruturas psíquicas da camada mais superficial e mais particulares (inconsciente pessoal) e das mais profundas e que são comuns a todos os indivíduos (inconsciente coletivo).


A proposta da Arte-Terapia tem como base a ideia de que as pessoas devem trabalhar livremente, ou seja, escolhem o material, a técnica e os materiais. A intervenção do arte-terapeuta deve sem mínima e, se possível, não deve interferir, para garantir que a produção artística e psicológica seja realmente espontânea.

A fotografia é uma imagem e está presente em tudo ao nosso redor: nos jornais e revistas, nas propagandas e nos livros, nas casas e nas ruas, nos museus e na mídia etc. Ela é onipresente, passam mensagens e, inúmeras vezes, influem na maneira como vemos o mundo.

A fotografia é sempre muito reveladora. Fotografar é um tipo de jogo de tempo e espaço. Um jogo muito sensível que captura um instante do tempo. É um registro de um momento da vida de alguém e que nunca mais será repetido, mas que evoca lembranças, sonhos, desejos e nos confronta com a realidade.


Nesse jogo com o tempo, a imagem fotografada, que parece viva, real e presente com apenas um clic vira passado e lembranças. Por outro lado, uma fotografia do passado pode reviver a mesma emoção daquele instante tão distante.

Através da leitura dessa imagem podemos relembrar o cheiro do lugar, ouvir os risos da turma, o aroma de uma refeição e até mesmo sentir o vento, o frio ou calor do lugar. Isto porque as fotografias evocam mais lembranças associadas do que a imagem registrou.  E essa leitura adquirem um novo significado e insere-se num novo contexto. E são os significados do antes e do depois que interessam à Arte-Terapia.

Muitas das emoções e sentimentos revelados na leitura de uma imagem fotográfica podem ser transformados em palavras e verbalizados. Mas muitos outros, não podem ser ditos. São tão dolorosos que, mesmo querendo, as palavras não saem. 


E é, nessas condições, que a fotografia pode ser um grande auxiliar da comunicação desses significados permitindo ao terapeuta compreender de onde começaram os obstáculos que levam essa pessoa a se calar. Com o conhecimento das causas e a compreensão delas o terapeuta pode ajudar a pessoa a encontrar um novo significado para esses obstáculos. A fotografia é, portanto, recurso riquíssimo para o processo terapêutico.