terça-feira, 1 de julho de 2014

MÚSICA CONCRETA


No século XX, a vida era bem diferente do que é hoje. Comunicação lenta e demorada, transporte igualmente lento. Apesar da agitação causada pela industrialização, a vida era calma. E mesmo acontecia com as artes.

Naquela época, a maior preocupação dos compositores era a afinação. Uma afinação baseada numa escala de notas (dó, ré e mi) que eram repetidas sempre na mesma altura ou com pouquíssima variação de sonoridade ou da relação entre elas.


Alguns compositores estavam cansados dessa “coisa morna e sem graça”. A princípio começaram a misturar essas notas entre si (dó + ré; ré + mi; mi + dó). Porém, em outras alturas. Mas, ainda assim, queriam mais. Muito mais.

Passaram a reparar e estudar os sons produzidos por uma porção de objetos que nada tinham a ver com instrumentos musicais. Foram experimentados dos objetos caseiros até os objetos do ambiente, como o som da chuva, do trovão, da água que escorria da torneira ou da cachoeira, do farfalhar das folhas das árvores ao vento, o som da vassoura ao varrer, o ruído das ruas, das máquinas no trabalho industrial, etc. E tentavam reproduzi-los com os instrumentos a sua disposição.


O título de “música concreta” foi dado pelo compositor e estudioso Pierre Schaeffer (1840 em diante), por causa dos objetos que estudava. Schaeffer gravava esses sons numa fita magnética e depois os misturava ou punha um sobre o outro e tornava a gravar. Não haviam notas musicais ou partituras em que pudesse se basear. Era um trabalho artesanal, misturados de forma bem rudimentar, mas que, com o passar do tempo, recebeu o nome de “samples” e, atualmente, chamamos de “mixagem”.


Em 1913, o italiano Luigi Russalo foi outro compositor inconformado com o marasmo da música. Russalo criou o que chamou de “orgia do barulho” (orgie de bruits). Esse barulho era produzido por objetos de diferentes tipos e os colocava em suas músicas. Naturalmente, foi um escândalo. Mas, Stravinski e Edgar Varese acharam essa interferência bastante interessante e se propuseram a “organizar” a barulheira, incluindo-os como instrumentos de percussão.

                          Luigi Russalo

Por volta dos anos de 1920 a 1930, Cage usou instrumentos musicais conhecidos, mas preparados de um jeito nada comum. Cage colocou em seu piano uma série de objetos entre e sobre as cordas para produzir uma interferência no som.
Cage
Cage também estudou o silêncio, ou seja, a ausência de som. Conta-se que numa apresentação, Cage mexia as mãos como se tocasse uma música. Porém, durante mais de 4 minutos, ninguém da plateia ouviu uma nota sequer. Cage queria com isso, que o público interpretasse por si só essa ausência sonora. Outro escândalo e foi acusado de produzir a “anti-música”.

Cage preparando seu piano e a partitura

Compositores e músicos ousados e criativos mergulharam na atonalidade, no silêncio e na própria música em seus estudos e experimentos. Mas, essas experimentações não era uma questão de experimentar simplesmente por experimentar. Tinham um propósito e uma preocupação.

Como propósito, a descoberta de novas relações na escala musical e tonal criando assim uma nova linguagem musical. Como preocupação: a razão, a ordem, a estrutura, a proporção e o equilíbrio da própria música porque queriam que suas obras fossem bem compreendidas.

O século XX ficou conhecido como o “século das comunicações” por causa do avanço tecnológico. Com o surgimento do rádio, do fonógrafo, do cinema e das novas e mais modernas indústrias de instrumentos musicais foi possível fazer com que a música fosse ouvida por todos. Ricos e pobres tinham a mesma oportunidade do ouvir e gostar de música.

Choques entre vanguardistas e conservadores ainda existe nos dias de hoje. Mas, vamos convir que toda mudança causa estranheza e incomoda um bocado para os acomodados. E devem ter sido terríveis para os dois lados.

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