domingo, 24 de fevereiro de 2013

TERAPIAS EXPRESSIVAS



Terapias Expressivas é nome dado ao conjunto de procedimentos com finalidade terapêutica ,utilizados por terapeutas e arte-terapeutas.

Esses procedimentos envolvem uma série bastante vasta de materiais e técnicas que auxiliam os sujeitos a se expressarem de forma criativa, fazendo com que certos conteúdos psíquicos venham á tona.

Durante anos esses procedimentos foram cuidadosamente pesquisados, testados e desenvolvidos até descobrir-se que as técnicas mais expressivas são aquelas ligadas ás formas artísticas. São terapias expressivas: a dança, a música, o canto, o teatro, a poesia, a literatura, as artes plásticas (desenho, colagens, bricolagens, pintura, escultura, etc) e outras infinitas possibilidades


Os benefícios são muitos. No tratamento emocional resolvem situações conflituosas, diminuindo os efeitos traumáticos, reestruturando o emocional, melhorando a autoimagem, a autoestima e a autoconfiança dos sujeitos e desenvolvendo competências cognitivas e habilidades sociais e das pessoas envolvidas, etc. Isto porque, os sujeitos possuem total liberdade expressiva.

No tratamento cognitivo auxiliam na formação de imagens mentais, na reestruturação da imagem corporal, como estimulantes das áreas cerebrais (principalmente do hemisfério direito), como forma de reabilitação para os deficientes intelectuais e idosos. Auxilia ainda no desenvolvimento da linguagem, através da expressão oral e/ou escrita.

Todas as formas artísticas e expressivas são desinibidoras e, portanto, facilitam e aprofundam as intervenções psicológicas e cognitivas. Para isso, é necessário que o terapeuta tenha um estudo aprofundado e contínuo de cada técnica. Exige ainda do terapeuta que o ambiente seja acolhedor e agradável. O mais importante são as atitudes de aceitação, tolerância, empatia, e abertura para as opções dos clientes por parte do terapeuta.

Não existe uma técnica melhor que a outra. Todas são boas e ajudam os clientes no que eles necessitam.

Quando se fala em arte, logo vem a mente o belo e o perfeito. Mas, nas Terapias Expressivas isto é o que tem o menor valor, pois o que se espera de um cliente são suas vivências e suas experiências. São estas duas coisas que vão constituir a expressão dos sujeitos e desencadear suas emoções. E elas só têm valor durante o momento da criação e para quem cria. Por isto o terapeuta não deve analisar ou interpretar a obra do cliente.

Mas, como o terapeuta sabe o que precisa ser feito? Sabe porque investiga, perguntando sobre coisas expressas na obra dos clientes, ouve e escuta com atenção o que o cliente diz sobre sua obra, observa as atitudes, a expressão fisionômica do cliente enquanto cria e desenvolve sua obra. Depois, junta-se tudo e busca-se a compreensão de tudo. Por isso, as Terapias Expressivas estão fundamentadas na Psicologia Analítica, cujo mentor teórico foi Carl Gustav Jung.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

EVOLUÇÃO DA DANÇA


DANÇA (CONT)

Em sua literatura, Bertoni (1992) nos conta que o homem necessitava manter uma ligação com o divino (mundo espiritual) e, por isso, buscou uma forma de extravasar essa necessidade através de movimentos corporais. Essa necessidade espiritual misturava-se com outras necessidades humanas como a  de manter-se abrigado,  busca do alimento,  amparo e  defesa contra um mundo que era hostil. Mais tarde, expressou através da dança as colheitas, as caçadas, os rituais religiosos, nascimentos, casamentos e mortes, homenagens á natureza (chuva, trovões etc), alegrias e tristezas e o anúncio de guerras.

Dessa forma, cada povo foi compreendendo que os movimentos realizados nas danças eram importantes e, pouco a pouco, foram incorporados ás ações cotidianas. E logo se transformavam em cultura. Os movimentos ganharam sentido e significado. As danças tornaram-se importantes, não só como meio de se cultuar as divindades, mas também como forma de expressar sentimentos e emoções. Dessa maneira, as danças foram se transformando num meio de comunicação e de relacionamento consigo mesmo e com os outros.

As sociedades primitivas e as mais avançadas foram descobrindo que a dança poderia ter outros motivos: por puro prazer, por lazer, para afirmar poder, para fazer distinção entre classes sociais, para ostentar riquezas etc. Foram percebendo que a dança trazia um novo significado para suas vidas. E assim, surgiram as danças populares.

Passado alguns séculos, as sociedades descobriram que o corpo físico podia movimentar-se com graça e leveza. Para isso, bastava um pouco de aprimoramento. E com esse aprimoramento surgiu a criatividade e, através dela, a auto-realização. E, pouco a pouco, foram observando os benefícios que a dança trazia para o campo do desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social. Mas, tudo dentro de um esquema coletivo.

Os homens e suas culturas observaram que as diversas maneiras de dançar também comunicavam e expressaram os diferentes sentimentos de diferentes momentos da vida e das sociedades em diferentes épocas. Surgem, então, as danças teatrais. Estas foram ganhando estrutura, organização e divisão do trabalho. Foi amadurecendo e evoluindo até transformar-se em arte. (BERTONI, 1992).

 

Como arte, a dança reúne vários outros segmentos artísticos como a música, a pintura, a escultura, o teatro, a expressão corporal (movimento). Ao mesmo tempo, o emocional do indivíduo, os diferentes papéis sociais, o desempenho das relações dentro da sociedade.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA


Muita gente tem curiosidade em saber por que todas as escolas possuem a mesma estrutura. Seguem as regras da Liga das Escolas de Samba (LIESA), dizem alguns. É tradição, dizem outros. Ambos estão com razão. Mas, não é só isso. Vejamos, então:


O desfile começa com a “COMISSÃO DE FRENTE”. Antigamente, a Comissão de Frente era formada pelos dirigentes da Escola e tinham a incumbência de convidar o público a assistir o desfile e prestigiar a escola. Porém, com a modernidade tudo foi se sofisticando. E a criatividade foi tomando conta. Mas, fazer essa mudança levou tempo e teve muitas críticas e resistências, como a da Portela que insistia em trazer a Velha Guarda e foi a última escola a aderir. Hoje em dia, a comissão de frente é formada por um grupo de 10 ou 12 pessoas que tem a importante função de apresentar a Escola ao público e aos jurados. Esse grupo apresenta-se ricamente fantasiados e dentro do tema que a escola traz. Eles fazem uma coreografia exaustivamente ensaiada durante os 4 meses que antecedem o desfile. Recebem pontos dos jurados pela apresentação.

A seguir, vem a primeira alegoria: o “ABRE ALAS”. O Abre Alas é um carro alegórico que, além de trazer o nome da escola, dá inicio ao tema que será tratado. Esse carro geralmente traz as cores e o símbolo dada escola. Esse carro também pode interagir com a comissão de frente ou não. Mas, com certeza tem que estar condizente com o tema e as alas que o seguem.

As “ALAS” são formadas pelo contingente da escola. As pessoas vêm fantasiadas igualmente e de acordo com o enredo. Cada ala ganha um nome de acordo com o enredo e ajuda a contar a história. As fantasias devem ser originais e bem acabadas.
As “ALEGORIAS E ADEREÇOS” constituem o ponto alto da Escola. Ajudam a contar a história e são verdadeiras obras de arte. Nelas, estão presentes gigantescas esculturas, cercada por rica ornamentação. Nelas, aparecem os destaques com fantasias ricas e pesadas, com resplendores feitos de penas que ajudam a dar um brilho especial ao carro alegórico. Alguns carros apresentam movimentos, soltam fumaça, apresentam efeitos sonoros e luminosos etc. Tudo isto é realizado manualmente por pessoas que permanecem dentro dos carros para exercer essa função. Cada escola pode levar para o desfile até 8 carros alegóricos. Se houver quebra ou uma pane qualquer, a Escola perde ponto.
Consideram-se adereços todos os objetos que os foliões carregam nas mãos e os resplendores pequenos das fantasias das alas. Embora pequenos, são obras de arte confeccionadas com materiais economicamente mais acessíveis. Também fazem parte dos adereços os tripés, as caixas, os estandartes, as flâmulas, bandeiras e tudo o mais que a escola precisar e criar para que a história seja contada e compreendida.
 
A “ALA DAS CRIANÇAS” já foi ala obrigatória. As pessoas da comunidade que iam ensaiar levavam os folhos junto e deixavam numa dependência da Escola. Lá, iam aprendendo a arte de sambar e de como se comportar durante os desfiles. Aos poucos, as escolas perceberam que ali se formava um celeiro de sambistas e passistas. Assim, levavam as crianças para a avenida para mostrar o talento delas. As escolas também recebiam elogios e eram prestigiadas pelo trabalho passando a ser considerado como um “benefício social”. O mesmo acontecia com as Escolas que dedicavam uma ala inteira a cadeirantes e outros tipos de deficiências. Hoje em dia, essas alas são facultativas porque deixaram de receber pontos dos jurados.
Duas figuras importantíssimas nos desfiles das Escolas de Samba sáo: o MESTRE-SALA E A PORTA-BANDEIRA. Eles representam a origem européia do Carnaval. A função desse casal é carregar o estandarte da escola e reverenciá-lo com um glamuroso balé. Apesar das fantasias serem muito pesadas (algumas chegam a pesar 40 kg) o mestre-sala e a porta-bandeira devem mostrar um balé leve e cheio de rodopios. Embora dancem muito próximos, a porta-bandeira em seus rodopios. jamais deve deixar que uma ponta do estandarte encoste ou esbarre no mestre-sala. Isto seria considerado um desrespeito ao pavilhão e perde pontos dos jurados.
Por isso, a escolha desses famosos casais é bastante disputada. Assume a posição de destaque, o casal que tirar a que melhor nota dos jurados. Hoje em dia, as escolas apresentam até 4 casais, mas, somente o primeiro é pontuado.
A “BATERIA” é outro ponto importante e quesito de pontuação. É ela quem canta o enredo e dá ritmo e andamento á escola. A colocação de cada integrante nas fileiras é determinada pela ordem dos instrumentos. Uma bateria de escola de samba é composta de tamborins, pandeiros, chocalhos, reco-recos, que vem na frente. O tarol, agogôs, cuìcas e repiniques e caixas de guerra, ao centro. Ao fundo, os surdos de primeira, segunda e terceira marcação. E cada bateria tem seu próprio jeito de tocar e que é reconhecido em qualquer lugar.Abre-se os portões e o tempo de desfile começa a ser contado
A bateria é dirigida pelo Mestre que vai a frente e comanda a todos por meio de apitos e gestos enérgicos. Esse mestre é auxiliado por assessores que ajudam a passar as ordens e fiscalizam o alinhamento.
Alguns mestres são bastante audaciosos, fazendo com que ocorram as famosas “paradinhas”, ou seja, a bateria para e a escola segue cantando e mostrando ao publico e aos jurados que conhecem o enredo.  Outras vezes, o Mestre comanda certas evoluções ou coreografias que a bateria deve realizar sem perder o ritmo e o andamento ou provocar atrasos.
A “RAINHA, PRINCESAS E MADRINHAS” vêm à frente da bateria. Essas figuras são importantes porque a apresentam ao publico. Suas fantasias e as da bateria também devem fazer parte ou estarem ligadas ao enredo.

Ainda ligado à bateria está o “INTERPRETE OFICIAL” que tem a responsabilidade de cantar o enredo durante todo o desfile. Essa tarefa não é fácil, pois ele repete o enredo (mais ou menos) 65 vezes. Para cumprir esta tarefa, é auxiliado por 2 ou 3 cantores de apoio. Cabe ainda ao intérprete o grito de guerra que estimula e une todos os componentes no início do desfile.
Os “PASSISTAS” são aqueles que possuem a arte de sambar, ou, o famoso “samba no pé”. São homens e mulheres habilidosos e sensuais que tem a função de preencher os espaços vazios até que a ala seguinte preencha o espaço. Por isso, eles aparecem em pontos estratégicos da escola, tais como: antes dos carros alegóricos e antes da bateria que, ao entrar no recuo, pode deixar um espaço vazio ou o temido “buraco”. Mas, para toda esta habilidade e beleza não são contados os pontos dos jurados.

A “ALA DAS BAIANAS” ou “ala das tias”, como também é chamadana comunidade. Elas tem presença obrigatória. Suas fantasias são pesadas (de 15 a 30 kg), Algumas das tias são bastante idosas, mas apaixonadas pelas escolas e pelo carnaval. A ala das baianas com seus rodopios é sempre um espetáculo à parte. Elas homenageiam a Bahia que contribuiu com os corsos que evoluíram para as Escolas de Samba atuais.

Atrás do ultimo carro alegórico vem a “ALA DOS COMPOSITORES” da Escola. Mais atrás , a última ala: a da Velha Guarda.

A “VELHA GUARDA” fecha os desfile despedindo-se e agradecendo ao público e prometendo voltar no próximo carnaval.
A escola passa e os portões se fecham. . Em São Paulo são 65 minutos e no Rio de Janeiro, de 80 a 85 minutos.O desfile e o carnaval estão terminados para as Escolas. Agora, é esperar o resultado do julgamento dos jurados. Alegrias para uns, tristeza e decepção para outros. Mas, assim é o carnaval.

FONTE:
Resumo de trabalho de pesquisa realizado em fevereiro de 2002, com acesso pela Internet aos arquivos do Centro de Pesquisas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, para o curso de Arte-Terapia.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O TRABALHO NAS ESCOLAS DE SAMBA


O carnaval brasileiro é uma festividade trabalhosa. Um desfile de Escolas de Samba tem um cunho social e econômico muito grande em nosso país. É um setor de geração de empregos atuante no ano todo envolvendo inúmeras de pessoas e em várias áreas da sociedade.

Mesmo antes que o desfile atual aconteça, a Escola de Samba já de prepara para o carnaval do ano seguinte. Começa com uma equipe de pessoas que visitam as várias bibliotecas do país em busca de assuntos interessante que possa ser transformado em desfile. Cada assunto encontrado já traz uma boa pesquisa. Uma síntese de cada uma é feita e apresentada para um grupo de pessoas que selecionam as mais interessantes. Feita a seleção, entram em votação antes dos festejos carnavalescos, pois não há tempo a perder.

Logo após o Carnaval e de uns dias de descanso, há um período de estudos sobre o novo assunto. Se necessário, pesquisam novamente alguns pontos para clarear dúvidas, preencher lacunas ou para descobrir novos detalhes.

Com a pesquisa pronta, cabe ao carnavalesco e sua equipe a tarefa de transformá-la num grande espetáculo. E, para isso, é feito um roteiro com os tópicos mais importantes que servirá de base para o planejamento do desfile. Esse roteiro é entregue aos letristas da escola ou convidados para que o assunto ou tema da escola se transforme no “enredo musicado” e que será o samba cantado por toda a escola. Assim como o assunto, o enredo também é escolhido por votação dos integrantes da escola, pois deverá ter fácil aceitação popular.

O passo seguinte é fazer uma espécie de rascunho desenhado de como a escola deverá tratar o assunto. Através destes desenhos, a escola pode estimar o número alas que serão necessárias para que a escola fale sobre o tema e, por consequência, estimam a quantidade de foliões que Escola levará para o Sambódromo. Este cálculo é importante para que a Escola tenha uma base de quantas fantasias deverão ser confeccionadas.

Segue-se o desenho tridimensional de cada parte da escola e da abertura ao encerramento do desfile como se fosse uma maquete. Esse trabalho é essencial para que o carnavalesco e sua equipe não percam a noção do todo ou do conjunto da Escola. Um todo que deve ser continuo, harmônico e equilibrado. O desfile deve ser agradável aos olhos, mas, antes de tudo, o público deve entender a história contada. Para isto, tem que estar bem organizado visualmente.
O passo seguinte é definir as formas, as cores e os materiais a serem usados. É o momento de desenhar as alegorias e as fantasias que não podem fugir do contexto do assunto e nem da tradição da Escola. Nesta fase, todas as fantasias são desenhadas da cabeça aos pés. O mesmo acontece com os adereços de mão, os tripés e os carros alegóricos que compões a alegoria. Tudo é feito nos mínimos detalhes. Depois, transformados em miniaturas que, pouco a pouco, vão sendo integradas á maquete. E tudo isso, em um curto espaço de tempo.
 

Enquanto tudo isto é feito, outras equipes entram em ação. A equipe financeira, por exemplo, sai em busca de patrocínio. A comissão de eventos organiza bailes, festas, shows dentro e fora do país para angariar fundos e auxiliar a equipe financeira. A equipe mecânica desmancha os antigos adereços e organiza o material de modo que possa ser reaproveitado e evitar gastos desnecessários. É também feito um inventário de tudo o que sobrou do carnaval anterior.

Após todo este planejamento, chega o momento da distribuição de tarefas. O material precisa ser comprado, juntado, pedido, cedido ou reciclado. Muita coisa precisa ser importada, como por exemplo, algumas plumas usadas nas fantasias dos destaques ou nos carros alegóricos. Toda esta tarefa fica a cargo do setor de compras da Escola de Samba.

O material reciclado tem que ser coletado, lavado, esterilizado e preparado para receber novas formas e cores, ficando a cargo da equipe de reciclagem. Plumas, tecidos, plásticos, papelões e tudo o mais que deverá usado na confecção das fantasias e adereços, precisa receber cores novas e isto fica a cargo do setor de tinturas. Depois de tingidos, alguns materiais precisam ser moldados ou confeccionados especialmente. Nestes casos, o trabalho é terceirizado, o que envolve pessoas e empresas que atuam fora da comunidade da Escola de Samba.

Com os materiais chegando, novas equipes são acionadas para realizarem seus trabalhos. Equipes de costureiras e bordadeiras confeccionam as fantasias. Equipe de chapeleiros e alegoristas confeccionam os adereços de cabeça e mãos. Sapateiros confeccionam os calçados a serem usados com as fantasias. Tudo exatamente iguais para que a escola não perca pontos na avenida.

Engenheiros, mecânicos, serralheiros, soldadores, eletricistas e marceneiros começam a montagem do esqueleto dos carros alegóricos, para que tudo seja muito seguro e nenhum folião saia machucado do desfile. Mais adiante, artistas plásticos esculpem as gigantescas figuras e os detalhes de flores, folhas e animais em isopor. Os anônimos da comunidade (que fazem o trabalho voluntário) lixam essas peças e as recobrem com uma demão de tinta branca, fazendo a impermeabilização. Um trabalho que leva meses.
 

No início do segundo semestre, e com o enredo escolhido, o mestre de bateria define o ritmo, os instrumentos que terão maior destaque, prepara as manobras a serem introduzidas, e cria algumas novidades que surpreenderão os jurados e público. E os ensaios começam. Entram em cena os “puxadores do samba”, cantores conhecidos ou não que repetem o samba enredo incontáveis vezes. São eles que levam a escola ao final do desfile com a mesma animação do inicio.

Professores de educação física, bailarinos e coreógrafos iniciam os ensaios das alas marcadas, da comissão de frente, do mestre-sala e porta-bandeira, pois tudo deve ficar perfeito. Essas alas ensaiam na quadra em dias em que não há função e quando querem manter sigilo ou nas ruas próximas á Escola de Samba.

Por volta do mês de novembro, especialistas em movimentos mecânicos de figuras gigantes, como as realizadas na festa de Parintins, no Amazonas, começam a chegar para dar vida a essas figuras. Terminado esse trabalho, começa o de pintura quando, então, as peças adquirem o colorido final.


Por fim, a montagem dos carros alegóricos. Um enorme contingente de voluntários e profissionais fazem o serviço e os testes para que tudo saia da maneira planejada. É o momento em que o Carnaval e o Desfile começam a tomar corpo.

Outros tantos contratados e voluntários ajudam ainda no transporte dos carros para o Sambódromo, dão os últimos retoques, empurram os carros durante o desfile, manejam os maquinários que dão movimentos e efeitos especiais, dirigem os carros, consertam quando os carros quebram, transportam os integrantes da escola e as fantasias mais pesadas, vigiam as alas, as brigas entre integrantes, acodem os destaques em situações de risco e outros tantos, voluntários anônimos que tratam da subsistência de cada folião oferecendo água e lanches.

E na hora determinada pela Liga das Escolas de Samba inicia-se o desfile. O sonho do carnavalesco se torna realidade. É a oportunidade de mostrar o trabalho de um ano inteiro (ou mais), realizado por profissionais e anônimos ao mundo. É hora de emoção e de vibração contagiante.  Por isso, entende-se o choro e, muitas vezes, a revolta quando um jurado estabelece uma nota baixa para um quesito da Escola.

Entendemos a importância do prêmio para as Escolas de Samba e sabemos quanto custa financiar todo este espetáculo. Entendemos que é decepcionante  trabalhar com afinco o ano inteiro e não ver todo esse trabalho reconhecido. 

Entendemos, mas jamais aceitaremos, nos conformaremos ou compactuaremos com a violência que alguns integrantes praticam, ao receberem uma nota baixa em algum quesito ou ao saberem que foram derrotados. 

Todas as escolas sabiam das regras impostas pela Liga e as aceitaram. Cabe aos dirigentes de cada Escola de Samba comunicá-las aos integrantes e punir os faltosos ou os que denigrem o nome da Escola.



A violência e o desacato aos jurados e á Liga das Escolas de Samba nos envergonha, como brasileiros  e  amantes do carnaval.  Pois, da mesma forma como  encantamos o mundo com nosso Carnaval, também o estarrecemos com algumas de  ações de nossos compatriotas empanando o brilho de nossa festa maior.

Esperemos que, este ano, tudo seja diferente.

fonte:
Resumo de trabalho de pesquisa realizado em fevereiro de 2002, com acesso pela Internet aos arquivos do Centro de Pesquisas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, para o curso de Arte-Terapia.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O CARNAVAL QUE ENCANTA O MUNDO

Para saber o porquê do Carnaval Brasileiro encantar o mundo inteiro é preciso que se conheça, pelo menos um pouco, a sua história, seus erros e acertos.

Portugal, assim como outros países da Europa, tem grande tradição carnavalesca. Apesar dessa tradição, não chegou a ter os olhos do mundo voltados para ele como aconteceu com Veneza, na Itália.

Em Portugal, essa festa era conhecida como “entrudo” e acontecia dias antes da quaresma, um período de 40 dias em que as pessoas não deviam comer carne, em respeito ao sofrimento de Jesus Cristo na Via-Sacra. Assim, na festa de entrudo, comiam carne á vontade para aguentarem a abstinência no período seguinte. Daí vem o nome Carnaval, cuja origem do latim (língua falada naquela época) é “carne levare”, cujo significado correto é “privação de carne”. 
 

Nessa festa, também era costume a brincadeira de as pessoas atirarem água, ovos e farinha umas nas outras e, para isso, se fantasiavam, usavam máscaras e saíam ás ruas cantando e dançando. Assim, o entrudo ganhava um sentido de liberdade. Sentido este que ainda é conservado nos dias atuais.

Após o descobrimento, os portugueses começaram a vir para cá. E com a vinda deles, a tradição veio junto. Porém, nos primeiro tempos da era colonial, a festa se resumia a brincadeiras entre familiares que, aos poucos foi se perdendo, devido ás lutas contra os indígenas e invasores estrangeiros, além das grandes distâncias entre os povoados e feitorias.
 

No entanto, reaparece quando a colonização aconteceu de fato. Era marcada por atirarem água e farinha uns nos outros. Porém, com a escravidão, a brincadeira se tornou mais violenta. Brancos e negros se defrontavam atirando baldes com água, balões com vinagre ou groselha, cal e farinha para molhar e sujar as pessoas.

Este tipo de brincadeira carnavalesca durou muito tempo, sendo proibida somente em 1840, quando as festas carnavalescas passaram a se concentrar nos salões, inspirados nos bailes europeus.

Lá, as pessoas iam vestidas com requinte, usavam máscaras e se divertiam, dançando. Mas, nas ruas, apesar da proibição, a brincadeira continuava a mesma. E só parou no início do século XX com a introdução e popularização do confete.

O carnaval brasileiro ficou reduzido aos salões e para foliões selecionados que queriam se divertir com tranquilidade e segurança. Estas festas fizeram sucesso. Nesses bailes, além da música e da dança, havia concursos de fantasias, onde eram premiadas: a mais bonita, a mais rica e a mais original. Porém, em meados do século XX foi perdendo força. Deixou de ser elitista para se tornar mais popular.

Por volta de 1850, a brincadeira de rua foi ganhando expressão com uma nova forma de se divertir no carnaval. Aparece pela primeira vez uma espécie de passeata de foliões pelas ruas do Rio de Janeiro: o “zé-pereira”. Nessa passeata, os foliões caminhavam e dançavam ao som de tambores. As batidas dos tambores faziam as pessoas seguirem os foliões, fosse por curiosidade ou por vontade de se divertir também.


Nos anos iniciais do século XX, o “zé-pereira” foi substituído pelos “corsos”. Os corsos eram um desfile de carros de capota aberta e caminhões enfeitados que passeavam pelas ruas do Rio de Janeiro. Nesses carros, iam pessoas fantasiadas (da família ou em grupo de amigos), cantando e jogando confetes e serpentinas uns nos outros, e nas pessoas que caminhavam pelas calçadas. Estes corsos desapareceram em 1930 (Rio de Janeiro) e, um pouco mais tarde, em São Paulo, onde o carnaval era menos expressivo.

Surge no Rio de Janeiro, as “grandes sociedades”, uma série de clubes que tinham como objetivo organizar a folia carnavalesca e o carnaval de rua. Esses foliões saíam pelas ruas da cidade com: comissão de frente (formada pelos dirigentes destes clubes), carros alegóricos e bandas próprias. A letra das músicas que entoavam era o tema dos carros alegóricos, que mostravam os problemas do país e criticavam os políticos. Esses grupos tiveram prestígio porque muitos artistas, escritores, poetas e políticos participavam deles, mas, atraiam um público bastante reduzido.

Ainda no Rio de Janeiro, surgem os ranchos ou cordões. Estes, foram inspirados numa festa folclórica da Bahia, o Reisado. Nesta festa folclórica se encena a caminhada de pastores e pastoras a Belém para conhecerem o Menino Jesus e prestigiarem seu nascimento oferecendo-lhe presentes. Na caminhada, os pastores batem de porta em porta e cantam pedindo “prendas”, que podem ser roupas, comida ou o que puderem ofertar. A principal característica do reisado é a riqueza, a beleza e colorido do vestuário dos participantes. Os ranchos cariocas, por sua vez, não deixaram a desejar. Capricharam nas fantasias, no luxo e na originalidade. Foram os ranchos que tornaram populares as famosas marchinhas de carnaval, como: “Mamãe eu quero” e “Taí”, entre outras. Os ranchos fizeram muito sucesso.


Por fim, surgem as Escolas de Samba. Sua origem é carioca e muitas delas aproveitaram a experiência e tradição dos ranchos, transformando os porta-estandartes do reizado nos Mestre-salas e Porta-bandeiras de hoje. A primeira delas foi a “Deixa Falar”, criada em 1928, no bairro do Estácio, RJ. Depois, outras foram criadas como a ”Estação Primeira de Mangueira” e a Portela ( antiga “Vai Como Pode”).
 

O desfile das Escolas de Samba agradou aos brasileiros e ao mundo. Seus adeptos são cada vez mais numerosos. A Praça Onze, local onde era tradicionalmente realizado esses desfiles, ficou pequena demais para abrigar as inúmeras escolas que se formaram e seus integrantes. Por isso, em 1970, foi criado um lugar mais amplo e apropriado para os desfiles: o Sambódromo.

Como o Brasil é muito grande, cada região desenvolveu o seu jeito de brincar o carnaval. Por isso, temos uma variedade de estilos . No Nordeste, prevalece o carnaval de rua. Na Bahia, os foliões dançam acompanhando os Trios Elétricos, criado em 1950, por Dodô e que agora, estão se espalhando por todos os cantos do país. Em Pernambuco, a Frevança, ou seja, os blocos de foliões dançam ao ritmo quente do frevo. Do centro ao sul, os desfiles das Escolas de Samba.

POR QUE O CARNAVAL BRASILEIRO ENCANTA O MUNDO?

Por toda essa mistura de influências (indígena, europeia e africana), por todas as nossas tradições folclóricas que são belas e riquíssimas, por toda a variedade de festejos, por todo o brilho do luxo e do lixo transformados em carros alegóricos e fantasias, pelo nosso ritmo, pela criatividade do nosso povo e pela multidão que se aglomera para brincar o Carnaval, porque somos um povo alegre e festeiro. Já não nos cabe que o Carnaval seja realizado em 3 dias. Precisamos do sábado e, ultimamente, da sexta-feira também, para abrilhantar ainda mais nossa festa carnavalesca. Sem contar com as micaretas e carnavais fora de época.


Mas, assim como outros centros carnavalescos que fizeram história, o carnaval brasileiro poderá perder toda essa expressão, quando um outro local, com criatividade e beleza suplante o nosso carnaval. Esperemos que isto demore a acontecer, pois temos orgulho de nossas raízes, de nossa tradição e do nosso carnaval.

Fontes
http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_17/carnaval.html
Resumo de trabalho de pesquisa realizado em fevereiro de 2002, com acesso pela Internet aos arquivos do Centro de Pesquisas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, para o curso de Arte-Terapia.